sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Obra de Arte versus Pichação

Durante as aulas de História da Arte, discutimos o que de fato é arte e como ela se posiciona em nossa sociedade.
Entre as reflexões, percebemos que no Brasil, a arte é cara, embora haja projetos de popularização do teatro, por exemplo, além de museus gratuitos. Uma frase sucinta foi colocada em discussão: “Arte sai cara porque quem tem acesso não são as pessoas de baixa renda.”
Outro ponto abordado é o fato da população desconhecer, não ter sido educada para arte.
Encontramos argumentos também na esfera política, que tem como intenção nos afastar de movimentos artísticos, com receio de rebeliões e manifestações.
A arte, genericamente, é elitizada. Para valorizarmos, precisamos conhecer.
Nesta análise, conclui-se que muitas pessoas ficam a margem do processo, são excluída. Além de não terem acesso às necessidades básicas, são privadas dos trabalhos artísticos.
Aqui, propomos um reflexão sobre as pessoas dominadas, excluídas do processo, com ênfase no trabalho artístico.


No início de 2009, a prefeitura de Campinas criou uma campanha contra a pichação. De autoria do vereador conhecido como “O Politizador”, o ato de pichar passou a ser considerado vandalismo e crime, com punição aos atuantes. Numa sociedade com dicotomias relevantes (consumidor x produtor / incluídos x excluídos), a pichação pode ser considerada uma forma de inclusão social. De acordo com Alfonso Garcia Rubio, o preço da prosperidade econômica é elevadíssimo em termos sociais, sendo a maioria da população mundial excluída. De que forma um ato considerado vandalismo pode incluir os excluídos?

Sabe-se que numa sociedade capitalista, desejos são confundidos com necessidades. Nessa perspectiva, aquele que pode consumir incita o desejo de consumo nos que não podem criando uma realidade desigual: poucos têm acesso aos bens necessários para pertencer à sociedade, e muitos são completamente excluídos. A classe dominante não permite que os dominados ou excluídos participem da comunidade, assim o montante marginalizado irá procurar meios de inserção na cultura social. A pichação é ma das opções.
Sem meios legais de participação na sociedade do consumo, jovens veem o mundo da ilegalidade como alternativa para entrar no mundo social. Do contrário, continuam à margem, sem voz, sem expressão e sem representatividade. Então, o ato de pichar oferece uma possibilidade de comunicação do excluído, com o mundo que o ignora. O indivíduo que picha expressa sua subjetividade, se insere no convívio social e se vê representado em muros espalhados pela cidade.

Desse modo, ao “limparmos” os muros e punirmos severamente esse ato de expressão, os pichadores buscarão outros meios de inserção na sociedade. O problema que tem origem no modo de produção desigual, não é corrigido. E o indivíduo que se sente excluído procurará novas alternativas de inclusão. Entre as opções aparecem as drogas e o mundo do crime.

Sem fazer apologia ao crime, nem as drogas, pode-se entender, portanto, tais atos hediondos como forma de os “dominados dominarem os dominantes”.

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